Testemunho de uma presa política

27-01-2012 09:24

Testemunho de uma presa política

 

 

Compra-se tudo ao estrangeiro

 

         “Fui presa no dia 21 de Abril de 1965. A PIDE assaltou-me a casa. Eram 4.30 horas da madrugada. Estava sozinha.

         (…) Como eu disse que ninguém me podia obrigar a dizer ou fazer aquilo que não queria, ele disse: “Esta quer levar a bandeira do Partido em cima do caixão.”

         No dia 6 de manhã levaram-me (…) para a sede da PIDE (…).

         Apareceu-me o inspector Tinoco para dizer que já sabia tudo a meu respeito, as minhas actividades, mas que queria ouvir da minha boca (…). Que se eu não falasse só saía dali para a morgue ou para o manicómio.

         (…) No dia 7 já não conseguia comer (…). Tinha febre e pedi um médico.

         Foi-me recusado (…).

         No dia seguinte (…) já mal me aguentava de pé. Tinha dores de cabeça fortíssimas, vomitava a toda a hora.

         Nesse dia 8, um sábado, diz o Tinoco: “ Maluca já ela está (…). Vai passar o fim-de-semana a Caxias e volta na segunda-feira (…)”.

         (…) Na segunda-feira (…) entraram então na sala duas “pides” (…). A Madalena começou aos pontapés (…), a bater-me na cara (…), cada vez batia mais (…).

         (…) Estive dois meses num completo isolamento, sem advogado, sem ter um lápis, sem papel, sem livros, sem ter absolutamente nada para me ajudar a passar o tempo.

 

Testemunho de Maria da Conceição Abrantes